segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A caverna de cada um.

O belíssimo e enorme salão principal da caverna em Carlsbad Caverns National Park, no sul do Novo México, nos Estados Unidos

A caverna de cada um.

Em uma de minhas recentes palestras sobre o método científico fiquei surpreso ao constatar que boa parte de minha jovem e seleta plateia não recordava (ou nunca ouvira falar) da célebre alegoria conhecida como “O Mito da Caverna” apresentada pelo filósofo grego Platão no Livro VII  de sua obra “A República”.

A princípio fiquei desconcertado; depois refleti que deveríamos oferecer aos nossos filhos um complemento diário de Filosofia (principalmente Filosofia da Ciência) seja através da boa literatura, ou valendo-se de pesquisas em conjunto da bibliografia disponível hoje na internet.

Penso que esse seja um maravilhoso adendo aos contos de fadas. Além de despertar a imaginação, faz um provocativo convite à reflexão.

Que tal contar essa parábola a seus filhos?
A alegoria da caverna, também conhecida como parábola da caverna, mito da caverna ou prisioneiros da caverna, faz uma comparação metafórica sobre a tomada de realidade que cada um deve realizar.

Parte do pressuposto de que existe um grupo de prisioneiros acorrentados em uma caverna, de costas para a única abertura que se comunica com o mundo exterior.

Tais prisioneiros que ali nasceram e ali cresceram, são obrigados, por conta de seus grilhões, a olhar para uma grande parede à sua frente. E é por meio das sombras projetadas nessa parede que recebem as informações sobre os acontecimentos externos à caverna.

Pelas paredes da caverna também ecoam os sons que vêm de fora e que, relacionados ao movimento das sombras, faz com que os prisioneiros interpretem tais informações como sendo a própria realidade.

Supondo que um dos prisioneiros consiga se libertar de seus grilhões e saia da caverna.  Ele descobrirá que a realidade supera em muito suas simples projeções.

Caso ele decida voltar à caverna para revelar aos seus companheiros de cativeiro o que descobriu, encontrará, segundo Platão, muitas dificuldades: desde o de não ser levado a sério e ignorado até o de ser tomado por louco e inventor de mentiras — coisa que poderia colocar em risco sua própria vida.

Nessa alegoria fica clara a intenção de Platão em buscar a essência das coisas para além do mundo sensível e identificar historicamente o papel de seu mestre Sócrates na política de sua época.

Um personagem da caverna, que por acaso se liberte, tal como Sócrates, correria o risco de ser morto por expressar seu pensamento e querer mostrar aos de sua época um mundo totalmente diferente do que era visto pelo senso comum, tão acorrentado a crenças, preconceitos e ideias enganosas e, por isso tudo, inertes em suas poucas possibilidades.

O questionamento base, ao que me refiro, também bebe nessa mesma fonte filosófica, pela ótica de outro grande gênio, Francis Bacon, o pai da ciência moderna em seu Idola Specus (ídolos da caverna).

No Idola Specus Francis Bacon nos apresenta a ideia de cada pessoa possui sua própria caverna, na qual interpreta e distorce a realidade projetada, valendo-se da penumbra particular de suas crenças e preconceitos.

Tal versão particular da verdade na qual se acorrenta por sua própria vontade, é acarinhada por seu ego ao ponto de ser tida como única e indiscutível.

Daí ele colocar sempre um definitivo ponto final nas coisas que caberiam com muita facilidade uma simples interrogação.
Nas palavras de Nietzsche — seria a convicção a pior inimiga da verdade? Muito mais que a mentira?
Ou não?
Por Mustafá Ali Kanso em 18.11.2013

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