quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Inova empresa.

Opinião: Inovação no Brasil – com Glauco Arbix, presidente da FINEP

Que balanço o Sr. faz do Inova Empresa desde o seu lançamento?

O Inova Empresa é um programa do Governo Federal, lançado pela presidenta Dilma Roussef em março passado, de R$32,9 bilhões a serem investidos em 2013 e 2014, com foco em inovação e tecnologia. É um programa que reuniu 12 ministérios, agências, a FINEP, o BNDES.

Primeiro, ao trabalharem em conjunto os ministérios, as agências e o governo, nós criamos uma porta única de entrada para as empresas. São áreas prioritárias definidas pelo governo federal, ou seja, áreas que o Brasil mais necessita, seja por conta de um déficit enorme e permanente na balança comercial, seja por conta de necessidades para fazer o Brasil se conectar com o futuro; áreas de interesse relevante para toda a economia, em que nós damos uma especial atenção, concentramos recursos.

A segunda vantagem que a gente está oferecendo diz respeito à possibilidade de se combinar as mais variadas ferramentas de que a gente dispõe. Crédito é uma delas. Nós oferecemos um crédito altamente subsidiado, em condições especiais, mas nós também temos a modalidade do que a lei chama de subvenção econômica. Há uma terceira modalidade que nós chamamos de não reembolsável para projetos cooperativos, quando uma empresa percebe a necessidade de trabalhar com um centro universitário ou um centro de pesquisa. Então, existe a possibilidade de combinar esses três instrumentos, que podem até ser aliado a um quarto instrumento, que é a equit., a participação.

Fazemos isso porque é assim que o mundo inteiro faz para ajudar as empresas a entrar em áreas que normalmente não entrariam porque são áreas de alto risco. Ao colocar recurso público, o Estado aguarda um retorno, seja para a empresa, para o setor, para o conjunto da economia. Ele espera um retorno maior do que aquele que foi investido.

Então, temos foco em inovação, prioridades temáticas, programas especiais montados de acordo com essas áreas, possibilidade de combinar esses instrumentos e o uso do poder de compra do Estado. Apesar de termos feito experiências muito ricas no passado, nós desaprendemos a usar esse poder de compra do Estado. A última experiência concreta que me lembro  foi a da Embraer, que acabou resultando numa empresa que é das mais dinâmicas da economia brasileira. Nós estamos fazendo algo semelhante, numa dimensão distinta, numa economia diferente, muito menos protegida e numa área diferenciada, que é a de fármacos.

O último ponto do programa é que nós iniciamos uma verdadeira revolução interna na FINEP. Reduzimos nossos prazos de atendimento de mais de 400 dias, em média, para 30 dias. Separamos os processos, agilizamos, criamos indicadores internacionais, criamos 86 indicadores de inovação, criamos rankings para classificar a empresa – os processos de inovação e o projeto, que são rankings que dialogam. Isso dá uma consistência, um rigor para a FINEP analisar esses programas e em um prazo muito menor. O prazo é uma consequência da melhoria de processos que nós fizemos. E fizemos isso com tecnologia. Introduzimos inteligência no processo. E achamos que isso responde a um anseio das pessoas, das empresas, do cidadão brasileiro que quer um setor público mais eficiente.

Também descentralizamos tanto o crédito quanto a subvenção econômica. Criamos o Inovacred e o Tech Inova. Isso significa que projetos menores serão apoiados por gente que tem conhecimento da sua região. Aqui no Rio, por exemplo, nós trabalhamos com a AgeRio.



2- Quais os principais desafios para a inovação no Brasil?

Nós ficamos muito tempo numa economia fechada e não competitiva. O mundo hoje é muito diferente, a competição é muito forte. Ainda que as empresas brasileiras tenham melhorado muito e passado a inovar mais sistematicamente, ainda não têm resultado satisfatório. A economia brasileira é pouco inovadora. As empresas ainda inovam pouco. Há mudanças sensíveis. Há movimentos empresariais pela inovação que se disseminam Brasil afora, há um esforço muito grande do governo em disseminar e incentivar a pauta de inovação, mas há um problema localizado nas empresas. Muitas empresas brasileiras já acordaram, mas a grande parte ainda não. Elas precisam se dar conta de que ou elas inovam permanentemente ou elas morrerão ou ficarão restritas a uma empresa de nicho, pequenas, circunscritas, limitadas ao seu bairro, à sua região ou até mesmo à sua área temática. Esse processo no Brasil não tem o dinamismo que precisaria ter. Chama a atenção o fato de que o Brasil tem uma dependência muito grande dos segmentos de commodities. E esses segmentos já mostraram historicamente que a taxa de retorno deles cai ao longo do tempo. Quem consegue manter uma taxa de retorno crescente é exatamente aquele processo, produto, empresa ou segmento que trabalha com as áreas mais intensivas em conhecimento, portanto, capazes de elevar o valor agregado daquilo que fazem. Essa é a busca, esse é o desafio da gente. Então, quando você pergunta qual o principal desafio, eu digo: do ponto de vista geral do país, da nossa economia, essa é a principal questão, porque ela é a única capaz de elevar a baixa produtividade da nossa economia. Baixa produtividade significa que a nossa economia não é competitiva no mesmo nível que os nossos concorrentes diretos. A produtividade da economia brasileira está praticamente estagnada desde os anos 80. Nós crescemos marginalmente. Essa é a agenda de médio e longo prazo da economia mais relevante que tem. Claro que nós podemos discutir inflação, juros, câmbio. Isso é importante, é chave, é básico da sociedade, é fundamento. Mas sempre pensar que a agenda econômica de médio e longo prazo é que torna nossa economia mais ágil, mais dinâmica, mais veloz, mais capaz de competir, que envolve redes globais, que envolve redes de outra natureza.



3- Existem perspectivas de mudança desse panorama?

Nós precisamos mudar. A hora que todas as empresas perceberem que elas têm que se transformar permanentemente, acho que será a hora do pulo do gato. Nós estamos um pouco no limiar. Porque há um número cada vez maior de empresas que está aderindo a essa perspectiva. Dou um exemplo para você: nós lançamos o programa Inova Empresa, de R$32.9 bilhões, e coletamos, até agora, com demanda agregada, R$56.2 bilhões. É muita demanda para um país que ainda inova pouco. É muita demanda para um país que se acostumou a deixar de lado a tecnologia ao menor sinal de fragilidade da economia, seja nacional ou internacional. Então, quando a gente olha que a economia precisa ser destravada e mesmo assim há uma demanda de R$56.2 bilhões para desenvolver tecnologia, é muita coisa. Isso foi uma surpresa positiva para nós. Um segundo sinal: nós abrimos o FINEP 30 dias a partir do dia 3 setembro. Nós temos hoje quase 700 empresas que estão se cadastrando na FINEP. Para se ter uma ideia, a nossa carteira de clientes com contrato firmado não chega a 400. Nós simplificamos o processo e de repente destampamos um caldeirão.



4- Como trazer o eixo de inovação para pequenas e médias empresas? Elas precisam de um programa diferenciado?

Elas precisam de um programa diferenciado, a dinâmica das pequenas empresas é muito distinta das grandes empresas… há vários movimentos aqui. O Brasil tem uma dificuldade grande de trabalhar com isso. Vejamos, nós oferecemos condições de crédito excepcionais. No entanto, mesmo em condições excepcionais, o crédito é um instrumento difícil de ser utilizado pela pequena empresa. Basicamente por conta das garantias. A pequena empresa dá vazão ao empreendedorismo. Elas têm vontade, disposição, dinamismo, energia. Isso não conta. São ativos intangíveis. As agências exigem garantias reais. Mas tudo isso é caro. É um problema muito superior, mais amplo que a FINEP. Nós não podemos resolver esse problema. No entanto, a descentralização já ajuda mesmo no crédito. Com a descentralização, nós permitimos que as pequenas empresas façam uso de fundos garantidores que são fundos regionais ou locais. O que não aconteceria se o trabalho junto às pequenas empresas fosse centralizado na FINEP. Mesmo assim, não é suficiente. Muitos dos fundos têm custo alto, uma dinâmica, uma burocracia. Nós queremos facilitar isso. Esse é um problema que só vai ser resolvido quando for equacionado em nível nacional. Uma segunda dimensão é trabalhar com as grandes e médias empresas, no sentido de convidá-las a integrar na rede, na sua malha de fornecedores as pequenas e micro empresas. Isso está sendo feito em todo lugar. Nós discutimos com as grandes empresas como elas podem incorporar. Trabalhamos com a ideia de montar sistemas de estímulo concreto para cada pequena empresa, para cada micro empresa, para cada empresa de pequeno porte que for incorporada nessas cadeias. Queremos formatar um programa para avançar nessa direção. As grandes empresas se movimentam muito no terreno da eficiência, da rapidez, da confiabilidade dos seus fornecedores. Não é uma atividade fácil porque depende de muitos agentes. Você precisa convencê-los e criar um ambiente de cooperação muito mais intenso do que nós temos. Esse é um dos pontos frágeis da tradição brasileira de inovação: a não tradição de cooperação entre empresas, mesmo empresas que competem no mercado. Há um mundo enorme de ativos, de equipamentos que poderiam ser compartilhados e que não são porque nós não temos essa tradição de cooperação.



5- Qual o caminho para que esses pequenos fornecedores não fiquem reféns das grandes empresas?

Depende da sua musculatura. Quanto mais frágil, mais você se submete ou é levado a se submeter a essas relações. Você consegue fugir ficando forte, aumentando sua escala e crescendo – por isso, para nós criar uma pequena empresa e continuar pequena não é uma alternativa; tem que ganhar escala. Mas o mais importante é a diversificação: a pequena ou média empresa que não fica ligada a um único comprador. Inovar é isso: criar um produto novo e colocar no mercado; criar um processo novo e colocar no mercado; é abrir um negócio novo. Ao fazer isso, você se diferencia dos outros. E ao se diferenciar, você cria outro caminho, outro destino para seus produtos. O que significa que você diminui sua dependência. Por isso que inovação é chave para empresa grande, média e pequena. É a forma de você ter autonomia no mercado, crescer, pagar salário melhor, trabalhar com gente mais qualificada, porque inovação é gente, é transformação. E transformação é a engenharia, é gente pensando como produzir algo distinto, algo novo, algo diferenciado e diferenciador da sua empresa no mercado.



6- Qual o foco da FINEP para 2014?

Potencializar o Inova Empresa, lançar as segundas versões de todos os programas e abrir uma nova rodada de captação e convite de projetos. Vamos avançar na linha de trabalho com a pequena empresa e sustentar a estratégia inteira das empresas, não somente projetos localizados. O Brasil precisa de empresas que inovem permanentemente. Para isso nós queremos sustentar e apoiar as empresas que incorporam inovação na sua estratégia. Nós também vamos lançar o FINEP 30 dias para a área de convênios com universidades e centros de pesquisa e para a área de subvenção.

rio-negocios.com.

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