Opinião: Inovação no
Brasil – com Glauco Arbix, presidente da FINEP
Que balanço o Sr. faz do
Inova Empresa desde o seu lançamento?
O Inova Empresa é um
programa do Governo Federal, lançado pela presidenta Dilma Roussef em março
passado, de R$32,9 bilhões a serem investidos em 2013 e 2014, com foco em
inovação e tecnologia. É um programa que reuniu 12 ministérios, agências, a
FINEP, o BNDES.
Primeiro, ao trabalharem
em conjunto os ministérios, as agências e o governo, nós criamos uma porta
única de entrada para as empresas. São áreas prioritárias definidas pelo
governo federal, ou seja, áreas que o Brasil mais necessita, seja por conta de
um déficit enorme e permanente na balança comercial, seja por conta de
necessidades para fazer o Brasil se conectar com o futuro; áreas de interesse
relevante para toda a economia, em que nós damos uma especial atenção,
concentramos recursos.
A segunda vantagem que a
gente está oferecendo diz respeito à possibilidade de se combinar as mais
variadas ferramentas de que a gente dispõe. Crédito é uma delas. Nós oferecemos
um crédito altamente subsidiado, em condições especiais, mas nós também temos a
modalidade do que a lei chama de subvenção econômica. Há uma terceira
modalidade que nós chamamos de não reembolsável para projetos cooperativos,
quando uma empresa percebe a necessidade de trabalhar com um centro
universitário ou um centro de pesquisa. Então, existe a possibilidade de
combinar esses três instrumentos, que podem até ser aliado a um quarto
instrumento, que é a equit., a participação.
Fazemos isso porque é
assim que o mundo inteiro faz para ajudar as empresas a entrar em áreas que
normalmente não entrariam porque são áreas de alto risco. Ao colocar recurso
público, o Estado aguarda um retorno, seja para a empresa, para o setor, para o
conjunto da economia. Ele espera um retorno maior do que aquele que foi
investido.
Então, temos foco em
inovação, prioridades temáticas, programas especiais montados de acordo com
essas áreas, possibilidade de combinar esses instrumentos e o uso do poder de
compra do Estado. Apesar de termos feito experiências muito ricas no passado,
nós desaprendemos a usar esse poder de compra do Estado. A última experiência
concreta que me lembro foi a da Embraer,
que acabou resultando numa empresa que é das mais dinâmicas da economia
brasileira. Nós estamos fazendo algo semelhante, numa dimensão distinta, numa
economia diferente, muito menos protegida e numa área diferenciada, que é a de
fármacos.
O último ponto do programa
é que nós iniciamos uma verdadeira revolução interna na FINEP. Reduzimos nossos
prazos de atendimento de mais de 400 dias, em média, para 30 dias. Separamos os
processos, agilizamos, criamos indicadores internacionais, criamos 86
indicadores de inovação, criamos rankings para classificar a empresa – os
processos de inovação e o projeto, que são rankings que dialogam. Isso dá uma
consistência, um rigor para a FINEP analisar esses programas e em um prazo
muito menor. O prazo é uma consequência da melhoria de processos que nós
fizemos. E fizemos isso com tecnologia. Introduzimos inteligência no processo.
E achamos que isso responde a um anseio das pessoas, das empresas, do cidadão
brasileiro que quer um setor público mais eficiente.
Também descentralizamos
tanto o crédito quanto a subvenção econômica. Criamos o Inovacred e o Tech
Inova. Isso significa que projetos menores serão apoiados por gente que tem
conhecimento da sua região. Aqui no Rio, por exemplo, nós trabalhamos com a
AgeRio.
2- Quais os principais
desafios para a inovação no Brasil?
Nós ficamos muito tempo
numa economia fechada e não competitiva. O mundo hoje é muito diferente, a
competição é muito forte. Ainda que as empresas brasileiras tenham melhorado
muito e passado a inovar mais sistematicamente, ainda não têm resultado
satisfatório. A economia brasileira é pouco inovadora. As empresas ainda inovam
pouco. Há mudanças sensíveis. Há movimentos empresariais pela inovação que se
disseminam Brasil afora, há um esforço muito grande do governo em disseminar e
incentivar a pauta de inovação, mas há um problema localizado nas empresas.
Muitas empresas brasileiras já acordaram, mas a grande parte ainda não. Elas
precisam se dar conta de que ou elas inovam permanentemente ou elas morrerão ou
ficarão restritas a uma empresa de nicho, pequenas, circunscritas, limitadas ao
seu bairro, à sua região ou até mesmo à sua área temática. Esse processo no
Brasil não tem o dinamismo que precisaria ter. Chama a atenção o fato de que o
Brasil tem uma dependência muito grande dos segmentos de commodities. E esses
segmentos já mostraram historicamente que a taxa de retorno deles cai ao longo
do tempo. Quem consegue manter uma taxa de retorno crescente é exatamente
aquele processo, produto, empresa ou segmento que trabalha com as áreas mais
intensivas em conhecimento, portanto, capazes de elevar o valor agregado
daquilo que fazem. Essa é a busca, esse é o desafio da gente. Então, quando
você pergunta qual o principal desafio, eu digo: do ponto de vista geral do
país, da nossa economia, essa é a principal questão, porque ela é a única capaz
de elevar a baixa produtividade da nossa economia. Baixa produtividade
significa que a nossa economia não é competitiva no mesmo nível que os nossos
concorrentes diretos. A produtividade da economia brasileira está praticamente
estagnada desde os anos 80. Nós crescemos marginalmente. Essa é a agenda de
médio e longo prazo da economia mais relevante que tem. Claro que nós podemos
discutir inflação, juros, câmbio. Isso é importante, é chave, é básico da
sociedade, é fundamento. Mas sempre pensar que a agenda econômica de médio e
longo prazo é que torna nossa economia mais ágil, mais dinâmica, mais veloz,
mais capaz de competir, que envolve redes globais, que envolve redes de outra
natureza.
3- Existem perspectivas de
mudança desse panorama?
Nós precisamos mudar. A
hora que todas as empresas perceberem que elas têm que se transformar
permanentemente, acho que será a hora do pulo do gato. Nós estamos um pouco no
limiar. Porque há um número cada vez maior de empresas que está aderindo a essa
perspectiva. Dou um exemplo para você: nós lançamos o programa Inova Empresa,
de R$32.9 bilhões, e coletamos, até agora, com demanda agregada, R$56.2
bilhões. É muita demanda para um país que ainda inova pouco. É muita demanda
para um país que se acostumou a deixar de lado a tecnologia ao menor sinal de
fragilidade da economia, seja nacional ou internacional. Então, quando a gente
olha que a economia precisa ser destravada e mesmo assim há uma demanda de
R$56.2 bilhões para desenvolver tecnologia, é muita coisa. Isso foi uma
surpresa positiva para nós. Um segundo sinal: nós abrimos o FINEP 30 dias a
partir do dia 3 setembro. Nós temos hoje quase 700 empresas que estão se cadastrando
na FINEP. Para se ter uma ideia, a nossa carteira de clientes com contrato
firmado não chega a 400. Nós simplificamos o processo e de repente destampamos
um caldeirão.
4- Como trazer o eixo de
inovação para pequenas e médias empresas? Elas precisam de um programa
diferenciado?
Elas precisam de um
programa diferenciado, a dinâmica das pequenas empresas é muito distinta das
grandes empresas… há vários movimentos aqui. O Brasil tem uma dificuldade
grande de trabalhar com isso. Vejamos, nós oferecemos condições de crédito
excepcionais. No entanto, mesmo em condições excepcionais, o crédito é um
instrumento difícil de ser utilizado pela pequena empresa. Basicamente por
conta das garantias. A pequena empresa dá vazão ao empreendedorismo. Elas têm
vontade, disposição, dinamismo, energia. Isso não conta. São ativos
intangíveis. As agências exigem garantias reais. Mas tudo isso é caro. É um
problema muito superior, mais amplo que a FINEP. Nós não podemos resolver esse
problema. No entanto, a descentralização já ajuda mesmo no crédito. Com a
descentralização, nós permitimos que as pequenas empresas façam uso de fundos
garantidores que são fundos regionais ou locais. O que não aconteceria se o
trabalho junto às pequenas empresas fosse centralizado na FINEP. Mesmo assim,
não é suficiente. Muitos dos fundos têm custo alto, uma dinâmica, uma
burocracia. Nós queremos facilitar isso. Esse é um problema que só vai ser
resolvido quando for equacionado em nível nacional. Uma segunda dimensão é
trabalhar com as grandes e médias empresas, no sentido de convidá-las a
integrar na rede, na sua malha de fornecedores as pequenas e micro empresas.
Isso está sendo feito em todo lugar. Nós discutimos com as grandes empresas
como elas podem incorporar. Trabalhamos com a ideia de montar sistemas de
estímulo concreto para cada pequena empresa, para cada micro empresa, para cada
empresa de pequeno porte que for incorporada nessas cadeias. Queremos formatar
um programa para avançar nessa direção. As grandes empresas se movimentam muito
no terreno da eficiência, da rapidez, da confiabilidade dos seus fornecedores.
Não é uma atividade fácil porque depende de muitos agentes. Você precisa
convencê-los e criar um ambiente de cooperação muito mais intenso do que nós
temos. Esse é um dos pontos frágeis da tradição brasileira de inovação: a não
tradição de cooperação entre empresas, mesmo empresas que competem no mercado.
Há um mundo enorme de ativos, de equipamentos que poderiam ser compartilhados e
que não são porque nós não temos essa tradição de cooperação.
5- Qual o caminho para que
esses pequenos fornecedores não fiquem reféns das grandes empresas?
Depende da sua
musculatura. Quanto mais frágil, mais você se submete ou é levado a se submeter
a essas relações. Você consegue fugir ficando forte, aumentando sua escala e
crescendo – por isso, para nós criar uma pequena empresa e continuar pequena
não é uma alternativa; tem que ganhar escala. Mas o mais importante é a
diversificação: a pequena ou média empresa que não fica ligada a um único comprador.
Inovar é isso: criar um produto novo e colocar no mercado; criar um processo
novo e colocar no mercado; é abrir um negócio novo. Ao fazer isso, você se
diferencia dos outros. E ao se diferenciar, você cria outro caminho, outro
destino para seus produtos. O que significa que você diminui sua dependência.
Por isso que inovação é chave para empresa grande, média e pequena. É a forma
de você ter autonomia no mercado, crescer, pagar salário melhor, trabalhar com
gente mais qualificada, porque inovação é gente, é transformação. E
transformação é a engenharia, é gente pensando como produzir algo distinto,
algo novo, algo diferenciado e diferenciador da sua empresa no mercado.
6- Qual o foco da FINEP
para 2014?
Potencializar o Inova
Empresa, lançar as segundas versões de todos os programas e abrir uma nova
rodada de captação e convite de projetos. Vamos avançar na linha de trabalho
com a pequena empresa e sustentar a estratégia inteira das empresas, não
somente projetos localizados. O Brasil precisa de empresas que inovem permanentemente.
Para isso nós queremos sustentar e apoiar as empresas que incorporam inovação
na sua estratégia. Nós também vamos lançar o FINEP 30 dias para a área de
convênios com universidades e centros de pesquisa e para a área de subvenção.
rio-negocios.com.
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